A liderança não é só para sábios

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Liderança wise fox

Num mundo de elevada produtividade e inovação constante, é crescente a pressão sobre a chefia e a liderança de equipas. Frequentemente me vejo na obrigação de explicar a diferença entre os dois papéis e serve este artigo o mesmo objectivo. 

Não tenho como garantido que esteja certo. Trata-se apenas daquilo em que acredito e agradeço ouvir pontos de vista diferentes ou sugestões de aperfeiçoamento na abordagem.

Diferença entre chefia e liderança

Um chefe para mim tem um papel muito administrativo, é MESMO a base da pirâmide invertida: o principal papel que tem é o de dar suporte à sua equipa, fazer tudo o que puder para facilitar o trabalho, dar as ferramentas e definir os procedimentos que melhor servem à sua produtividade. Depois “sai da frente” para deixar a equipa trabalhar no dia-a-dia, embora muito disponível para ajudar sempre que surgirem dúvidas, problemas ou seja necessário tomar uma decisão urgente.

Já um líder não tem de todo de ser chefe, nem tão pouco ser único por equipa. Qualquer um pode e deve assumir um papel de liderança dentro de uma equipa. Servem os lideres para motivar colegas, para se chegarem à frente nos desafios e para não deixarem ninguém para trás.

Chegar a chefe é simples, tal como é referido no princípio da Incompetência de Peter, que reconhece como num sistema hierárquico todos são promovidos até encontrarem a sua incompetência. Basta fazer um bom trabalho e esperar, pois algum dia chegará a promoção e a responsabilidade acrescida de responder pelos resultados de uma equipa.

Por outro lado, ser líder parece ter assumido um papel de exagerado destaque, em que a maioria tem vergonha de se rever como tal e ser chamado como tal. E é assim porque hoje se assume que um chefe é um ser autoritário e controlador e um líder um ser perfeito. Na minha opinião nenhum destes preconceitos faz sentido.

A gestão do futuro

Já lá vão os tempos de chefes autoritários, afinal o mercado de trabalho é hoje muito aberto e diversificado, ninguém tem de trabalhar para uma besta. Também já não faz sentido o papel controlador que se lhes atribui: se não confiamos nas pessoas da nossa equipa, então algo foi mal feito anteriormente – ou na identificação das pessoas certas para a equipa, ou no equilíbrio entre a autonomia e responsabilidade que lhes foi passada.

Já no lado dos líderes o problema parece ter a ver exactamente com essa carga enorme que o título traz consigo. Não só se espera que um líder seja perfeito como o seja permanentemente. 

Mas a imperfeição é uma característica fundamental de um bom líder: porque comete erros como qualquer mortal, é incompetente como qualquer profissional, também se desmotiva e desanima como qualquer pessoa. E é com todos esses defeitos que tem a humildade de aprender a ser melhor colega e consegue ter a empatia necessária para ajudar e reconhecer o valor dos outros.

Os líderes não se designam nem se auto-elegem, nem têm de o ser de forma permanente e eterna. Todos somos líderes em alguns momentos, todos assumimos papéis de liderança espontânea e momentânea sobre alguém ou dentro de alguma equipa. E era muito bom que tal acontecesse de forma assumida para que a vergonha e o pedestal deixassem de estar agarrados a esse estatuto.

Reconhecer a liderança

Drew Dudley explica muito bem este papel no vídeo abaixo, mas também salienta outro aspecto interessante do papel de um líder, que se prende com a normal e saudável despreocupação destes em relação ao reconhecimento. 

É verdade que ninguém deve ser líder motivado pelo agradecimento dos outros, mas é igualmente relevante perceber como poucas pessoas reconhecem os momentos em que alguém, por algum motivo, foi líder e chave para alguma situação na sua vida.

Para mim, essa falta de reconhecimento tem dois grandes problemas. Primeiro, tal como Dudley afirma, não ajuda a desmistificar o estatuto. Não temos de ser todos Gandhi ou Madre Teresa. Se ser líder ou ter uma atitude de líder fosse mais reconhecido, talvez as pessoas não tivessem tanta vergonha em assumir esse papel tão importante. 

Segundo, se não agradecemos esses atos de liderança, pequenos ou grandes, então o “líder” não vai perceber a importância que teve junto de nós e quão certa foi aquela atitude. Abre-se a porta a que, numa próxima oportunidade, se acanhe devido à incerteza de estar a ajudar ou a piorar a vida dos outros.

Separar as funções

No meu entender, é simples resolvermos isto: separamos as funções de chefe e líder, assumimos que os líderes são tão ou mais importantes para uma equipa do que um chefe e passamos, sem demasiada carga, a reconhecer e agradecer os gestos de liderança.

É precisamente assim que funciona, por exemplo, uma equipa de futebol. Ao treinador cabe o papel de escolher a equipa, definir a tática e observar o seu cumprimento durante o jogo, ele é o responsável máximo da equipa. Mas é ao capitão, capitães ou até a todos os jogadores, que cabe o papel de lideres em campo. De motivar os colegas, de ir em seu socorro quando têm problemas, de nos juntarmos a eles nas celebrações e no reconhecimento de um bom trabalho.

Ainda no futebol temos um bom exemplo disso. Cristiano Ronaldo é um líder incontestável em campo, mas não é o chefe, não é o maestro, nem tão pouco o responsável pela equipa. Mas faz toda a diferença quando está presente e a importância que tem é claramente reconhecida por todos.

Embora pareça simples, esta mudança de mentalidade e diferenciação entre chefes e líderes tarda em acontecer. O mundo evolui muito rapidamente mas, por alguma razão, as organizações e as pessoas mantêm essa obrigação de um chefe ter de ser um bom líder e o comum dos mortais nunca ter reconhecimento pelos seus gestos de liderança.

Já é tempo de as equipas nomearem o elemento facilitador e analítico como chefe e passarem a reconhecer a importância de todos terem pequenos momentos de liderança, devidamente reconhecida.

Deixo por isso o desafio. Assumam-se como os líderes que são e agradeçam os gestos de liderança que os outros tiveram sobre a vossa vida. Reconheçam e falem das atitude que, por qualquer razão, fizeram diferença positiva na vossa vida: os responsáveis merecem saber da importância que tiveram.

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